Amar, verbo intransitivo

Vou retratar um livro do qual eu li, antes de lê-lo no ano passado, lembro de ter subestimado ele por considerá-lo estranho e até um livro sem graça, aparentemente. Eu só li por porque o título me chamou atenção, porque ironicamente, gramaticalmente o título está errado. Também o li porque tive que ler entre outras obras literárias para Vestibular, e estudei muito na época que li. 

Primeiramente vemos o título, quem conhece a gramática portuguesa sabe perfeitamente que o verbo "Amar", é um verbo transitivo direto e não intransitivo. Mas afinal, por que Mário de Andrade deixa um "quê" de dúvida e confusão ao se deparar com o relutante título?
Isso, meu caro leitor é devido à sua percepção ao ler o livro. O enredo do livro é sublime, simples, mas que responde a essa relutância com o título. O título se cabe também a uma poesia de Carlos Drummond de Andrade que sou fã:

Se os olhares se cruzarem e neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta:
pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa ...

Se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem
mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um para o outro ...

Se você conseguir, em pensamento,
sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado ...

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura,
que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida ...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo estando ela de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados ...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite ...

Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma,
um futuro sem a pessoa ao seu lado ...
É o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.

Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e,
mesmo assim tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela ...

Se você preferir morrer, antes de ver a outra partindo ...
É o amor que chegou na sua vida !

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia
o deixem cego para a melhor coisa da vida:
muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida,
mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Ou, às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais,
deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

Preste atenção nos sinais e não deixe que as loucuras do dia-a-dia
o deixem cego para a melhor coisa da vida:
O amor ...

Mas vamos falar do livro "Amar, verbo intransitivo":

No começo quando li o livro, relatando primeiramente sobre o livro e a forma de Mário de Andrade de como escrevia e sobre suas resenhas ao livro, eu fiquei meio atordoada, pensando: "por que eu não passo logo adiante para ver essa história?" Quando comecei a ler não via nada de bonito, até porque esse livro é bem específico em questão de estilo, que depois eu falarei a respeito. Eu pensava: "Mário de Andrade, por que você coloca pontos em momentos da frase?" Risos. Logo falarei. O livro se trata de uma história não muito comovente, mas arrebatadora, eu diria. 

O enredo:
Uma família rica Burguesa do qual o pai da família é de nome Souza Costa que moravam na cidade Higienópolis, que contrata uma Alemã madura chamada Elza de 35 anos, que no livro é chamada de Fräulein (que quer dizer senhora em Alemão e se pronuncia: "froaulain"), no intuito de ser uma "Professora de Amor" de Carlos, filho mais velho (15 a 16 anos) de Souza Costa, tendo quatro filhos, sendo três meninas. Ela passa a ser governanta para a família, menos para Souza Costa, que a contratou dando foco ao seu filho. Fräulein passa a ensinar (piano e alemão) às crianças "junto" com a Esposa de Souza Costa chamada Dona Laura, que pelo desenrolar, logo no início,  da história sabemos que ela desconhece sobre o verdadeiro significado de Fräulein em sua casa. No começo Fräulein observa Carlos com suas irmãs e vê que se trata de um moço que precisava ser educado, pois muitas vezes brincava com suas irmã e sem querer, as machucava. Logo percebe o quanto Carlos é travesso.  Fräulein dizia que sua profissão era séria, que da qual não se relacionava à prostituição, até porque ela chamada de Fräulein. 
Ela era séria e não queria ter conotação de Aventureira por sua profissão. Carlos amava ter aulas com Fräulein, que deixa o leitor desnorteado ao ler sobre as aulas sem fazer nenhuma menção à sexo, só relata as aulas de Fräulein com Carlos de modo carinhoso dizendo: Piano e Alemão (risos). Fräulein dizia que no Brasil as pessoas eram ríspido e as crianças mal educadas, que não gostavam de estudos. 

Obs: Não falarei mais do enredo, pois quero dar gosto de "quero mais" para todo mundo ler (MUAHAHAHA). 


Críticas, Percepção do livro, e sobre o livro:

É fantástico ler o livro na parte dos momentos de Fräulein com Carlos e simplesmente Mário de Andrade cortar o tal momento esperado pelo leitor. É até engraçado, ver que suas frases e momentos são cortados por pontos ou outros assuntos e percepção do texto pelo próprio Mário de Andrade. Isso se chama digressão, e Mário abusou, mas com perfeição nos detalhes para deixar o leitor confuso e deixar na imaginação sobre a continuação da trama. 


Mário de Andrade fez este livro com grande louvor, e além do mais não é pra pouco porque ele fez vários rascunhos até ficar excelente. Achei incrível o livro ter teorias freudianas, mesmo não relatando. Pois mostra exatamente que Souza Costa quis usar um método para evitar a Prostituição fora de casa, sendo assim usou Fräulein, mulher de confiança, para ser alguém especial a seu filho que pudesse saber o que é "amor". Andrade não deixa de mostrar a superioridade de Fräulein em relação à sua raça, que é alemã, ela retrata muito grandes autores alemães e coisas da Alemanha e ferindo os latinos.  Eu adoro o livro por causa disso também, é irônico, mas dá pra ver o quanto Souza Costa estava preocupado com seu filho que iria tomar sua herança mais tarde. Lembro que Fräulein aceitou o trabalho porque o sonho dela era voltar para Alemanha, sua terra, pois lá, enquanto estava no Brasil havia a guerra e Alemanha estava sem condições de ser um lugar tranquilo. Ela sonhava em ganhar dinheiro com o trabalho para poder se casar na Alemanha.Esqueci de dizer que o livro se trata de um idílio, alguns ignoram o livro por ser um idílio, mas acho que é o idílio que vale muito à pena ler.
Modelo e linguagem: No livro contém muita Metalinguística, e deixa isso bem óbvio toda a percepção de Mário de Andrade em relação ao que escrevia. Era como se ele estivesse lá na sua própria trama e como se soubesse de tudo o que estava acontecendo, um observador cheio das opiniões no decorrer do idílio, então estava em terceira pessoa, mas os comentários são em primeira pessoa (bem curioso) O livro é bem regionalista, ou seja que no caso do livro, é Paulistano, deixando uma fala bem abrasileirada. As pessoas relacionam Andrade com Machado de Assis, pelo fato de os dois amarem seus personagens e parecer dar vida ao descará-los. Andrade coloca Elipses, muitas vezes, que deixa o leitor a tentar descobrir que palavra poderia ser. 
O período histórico: É interessante porque  era na época em que Alemanha estava turbulenta entre guerras (primeira guerra mundial), sem condições de paz. Havia o sentimento de derrota, e todos muito amargurados. Mas Andrade dá foco ao Brasil onde é onde acontece a trama, sendo que no Brasil estava ao contrário de Alemanha, pois o Brasil estava no crescimento da comercialização de café.



Obs: Adorei as referências aos grandes compositores Johannes Abrahms e Richard Wagner, que Fräulein amava dizer. 





Eu super recomendo, e pretendo ler novamente depois de ter assistido o filme (que é pior que o livro, o livro é muito mais imaginativo e apaixonante, o filme é chato). 




Não assistam ao filme, e Fräulein é Loira!


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